Site atualizado em 07/11/2023
A idéia da criação, no Brasil, de um museu de história natural, apareceu no governo do Vice-Rei D. Luiz de Vasconcelos (1779-1890), com a fundação da “Casa de História Natural” ou “Casa dos Pássaros”. Essa Casa teve curta existência, sendo fechada em 1810.
A maior influência para a instalação oficial de um museu de história natural no Brasil, entretanto, foi a chegada da Arquiduquesa D. Leopoldina de Habsburgo, irmã do Imperador D. Francisco I da Áustria e futura Imperatriz do Brasil pelo seu casamento, em 1817, com D. Pedro, filho do Rei D. João VI e herdeiro ao trono de Portugal, Brasil e Algarves. A Imperatriz D. Leopoldina amava as Ciências Naturais e, assim, incrementou o interesse pela investigação científica, sendo responsável por viagens de diversos cientistas europeus ao Brasil em seu tempo.
Por um Edital de 06 de junho de 1818, assinado pelo Rei D. João VI, foi criado o Museu Real, mais tarde chamado Museu Imperial ou Museu Nacional, quando a independência do Brasil foi proclamada em 1822. Este último nome, Museu Nacional, foi mantido após o advento da república em 1889.
Inicialmente, o Museu foi instalado em uma casa no centro da cidade do Rio de Janeiro, e depois da Assembléia Constituinte Republicana, foi transferido para o Palácio da Quinta da Boa Vista, onde está alojado até hoje.
O Palácio da Quinta da Boa Vista foi construído pelos jesuítas e adquirido por Elias Antonio Lopes, um rico mercador português. Ele ofereceu essa casa ao Rei D. João VI em 1808, em troca de um título nobiliárquico. Daquela data até 1889, o Palácio foi a residência do Rei D. João VI e dos Imperadores D. Pedro I e D. Pedro II. Em 1889, o Palácio abrigou a primeira Assembléia Constituinte Republicana e, em 25 de Julho de 1892, passou a abrigar o Museu Nacional.
Como uma instituição pública, em sua extensa existência o Museu Nacional foi submetido a muitos organismos governamentais, tais como os Ministérios da Justiça, da Agricultura e da Educação. Entre os anos de 1930 a 1941 pertenceu à Universidade do Brasil, mas retornou à alçada do Ministério de Educação e Saúde de 1941 a 1945. Por um decreto presidencial datado de 16 de Janeiro de 1945, o Museu Nacional foi incorporado e, por um decreto de 18 de Julho de 1946, foi integrado à então Universidade do Brasil, atualmente Universidade Federal do Rio de Janeiro, com a situação de instituto de pesquisa.
As coleções científicas do Museu Nacional iniciaram-se, portanto, no século XIX. Importante acervo foi reunido durante todo esse tempo, muitas vezes de maneira um tanto atabalhoada, mas que vem a constituir o mais importante acervo em História Natural da América Latina. Suas coleções abrigam abundante quantidade de exemplares-tipo e representam o registro histórico e científico da biodiversidade neotropical, principalmente do Brasil.
Trabalharam nas coleções do Museu Nacional herpetólogos ilustres como João Batista de Lacerda, Alípio de Miranda Ribeiro, Bertha Lutz e Antenor Leitão de Carvalho. Este último pesquisador permaneceu como responsável pelas coleções herpetológicas até sua aposentadoria em 1980 e, logo após, por motivos de saúde que levariam a seu falecimento em 1985, afastou-se quase totalmente do Museu Nacional. A Coleção Adolpho Lutz foi incorporada ao Museu Nacional em 1968, através dos esforços de Bertha Lutz, que veio a falecer em 1976.
As coleções ficaram então sem responsável direto a partir de 1980. Apenas trabalhos de manutenção eram realizados, com a entrada de material praticamente paralisada, a não ser por alguns holótipos e parátipos de espécies descritas mais recentemente. Material adicional recebido foi apenas armazenado, sem registro de entrada na coleção ou triagem. Assim sendo, Ulisses Caramaschi assumiu suas funções em fins de 1984, com a situação das coleções bastante problemática.
Atualmente o Setor de Herpetologia conta com quatro docentes/curadores (Prof. Titular Ulisses Caramaschi, Prof. Titular José P. Pombal Jr., Prof. Associado Ronaldo Fernandes e Prof. Adjunto Paulo Passos), dois Gerentes de Coleções (Dr. Pedro Pinna e Dra. Manoela Woitovicz Cardoso) e um Técnico (Dr. Marcelo Soares). Também trabalha ativamente no Setor de Herpetologia um Prof. Visitante Estrangeiro (Dr. Bryan Jennings). Como os docentes do Setor são orientadores do Programa de Pós-graduação em Zoologia do Museu Nacional, é grande o número de estudantes de Pós-graduação com os seus temas relacionados primariamente à herpetologia.
O Setor de Herpetologia está localizado no pavilhão do Departamento de Vertebrados dentro do Horto Botânico do Museu Nacional, também situado na Quinta da Boa Vista.
Nascido em 12 de julho na cidade Campos dos Goytacazes no Estado do Rio de Janeiro, médico e antropólogo. Formado pela faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, clinicava em sua cidade natal quando foi nomeado Sub-Diretor da Seção de Antropologia, Zoologia e Palentologia do Museu Nacional. Mais tarde, foi eleito Diretor do recém criado Laboratório de Fisiologia Experimental do Museu Nacional, o qual ajudou a organizar. Nesta época, fez estudos pioneiros com o curare e venenos de ofídios e anfíbios. Descobriu a ação neutralizadora do permanganato de potássio sobre a peçonha das serpentes, das quais descreveu formalmente para a ciência a espécie Bothrops jararacussu. Dedicou-se também aos estudos de microbiologia e febre amarela. Foi diretor do Museu Nacional (1895-1915) e presidente da Academia Nacional de Medicina. Publicou também estudos sobre hominídeos fósseis brasileiros, sendo condecorado com a medalha de bronze na Exposição Antropológica de Paris. Autor de "Fastos do Museu Nacional do Rio de Janeiro", publicado em 1305, importante texto sobre a história da instituição.
Nascido a 21 de fevereiro de 1874 na cidade de Rio Preto no Estado de Minas Gerais, foi um dos zoólogos mais profícuo e influente de sua era. Demonstrou inclinação para as ciências naturais desde os 14 anos de idade. Após finalizar seus estudos primários, transferiu-se para o Rio de Janeiro para frequentar o curso secundário. Ingressou na Escola de Medicina do Rio de Janeiro e concomitantemente iniciou seus trabalhos como preparador no Museu Nacional em 1894, aos 20 anos de idade. Em 1899 tornou-se secretário do Museu e depois, apos várias promoções, foi nomeado Professor e chefe do Departamento de Zoologia (criado em 1929), posto este que manteve até sua morte em 8 de janeiro de 1939. Entre 1908-1909 foi zoólogo da Comissão de Linhas Teleféricas e Estratégicas do Mato Grosso ao Amazonas, a afamada Comissão Rondon. Em 1912, foi nomeado Inspetor de Pesca. Embora seja reconhecido como o mais importante ictiólogo sul-americano de seu tempo, Miranda Ribeiro publicou extensivamente com todos os grupos de vertebrados. Seu mais amplo estudo herpetológico, intitulado “Notas para Servirem ao Estudo dos Gymnobatrachios (Anura) brasileiros”, foi publicado em 1926 e ainda hoje é uma referência obrigatória para estudos dos anfíbios anuros brasileiros [modificado de Adler, 1989 e Pombal 2002].
Bertha Maria Julia Lutz, foi uma ilustre naturalista e feminista brasileira nascida em 2 de agosto de 1894 na cidade de São Paulo, Brasil, filha do também ilustre zoólogo e médico brasileiro Adolpho Lutz (1855-1940). Seu interesse por anfíbios remontam a sua infância, onde fez sua primeiras viagens de coleta com seu pai, ainda que tenha iniciado seus estudos formais com herpetologia somente após os quarenta anos de idade. Estudou Ciências Naturais na Universidade de Sorbonne na França e, depois, Direito na Universidade do Brasil (atualmente Universidade Federal do Rio de Janeiro). Esta última faculdade teve como motivação sua preparação para fornecer assistência legal para o movimento feminista. Em 1922 foi co-fundadora do movimento pelos direitos das mulheres no Brasil, o qual a levou a integrar um comitê que redigiu a nova Constituição brasileira em 1932, que finalmente resultou no sufrágio feminino em 1933. Bertha Lutz ingressou previamente no Museu Nacional, onde se tornaria chefe do então Departamento de História Natural; tornou-se, também, professora emérita da UFRJ. A despeito de sua ocupação formal como naturalista, ela continuou a desempenhar importante papel no cenário político nacional e internacional, chegando a participar, como representante brasileira da reunião em que a Organização das Nações Unidas foi fundada em 1945 e, já aos 80 anos de idade, da Comissão Interamericana para os direitos das mulheres. Ela iniciou seus estudos herpetológicos para auxiliar seu pai, que perdera a visão no final de sua profícua vida, e publicou junto a ele seus primeiros artigos com anfíbios anuros (1938-1939). Após a morte de seu pai em 1940, seguiu trabalhando ativamente com os anfíbios, sobretudo os da então família Hylidae, o que resultou em uma série de trabalhos tendo como foco a taxonomia, sitemática, história natural, desenvolvimento e comportamento dos hilídeos. Seu trabalho intitulado “Brazilian Species of Hyla” publicado em 1973, se tornou um estudo clássico, sendo referência obrigatória para o estudo das pererecas brasileiras [modificado de Adler, 1989].
Nascido em 15 de abril de 1910 em Barreira do Piquete 180 Km noroeste da Cidade de São Paulo, iminente e autodidata herpetólogo e ictiólogo brasileiro. Após o termino de sua formação secundária em sua cidade natal, trabalhou como piloto de uma embarcação mercante entre 1927-1932. Quando seu navio esteve ancorado no Rio de Janeiro, visitou o Museu Nacional, onde fascinado pelas coleções que vislumbrou, se ofereceu como voluntário para trabalhar nesta casa. Em 1933 ingressou como técnico científico e coletor no Museu Nacional, trabalhando diretamente com Alípio de Miranda-Ribeiro (Zoólogo Sênior do Museu Nacional), que por esta época, trabalhava com anfíbios. Carvalho desenvolveu interesse similar para o estudo dos anfíbios e logo organizou uma grande expedição de coleta ao Nordeste do Brasil. Depois do falecimento de Miranda-Ribeiro em 1939, o qual via em Carvalho o seu sucessor natural como curador de herpetologia, ele concorreu com outros pesquisadores da época pelo referido cargo, o qual assumiu de fato somente em meados de 1941. Em 1947 Carvalho foi premiado com uma bolsa de estudos da Fundação Guggenheim para realizar seus trabalhos nos EUA, mas o governo brasileiro somente permitiu seu afastamento em 1951, quando ele passou dois anos trabalhando em colaboração com Georges Myers em Standford University na California. Myers, um ictiólogo e herpetólogo que coletara extensivamente no Brasil entre 1942-1944, se tornou o segundo mentor de Carvalho. Este período de dois anos nos EUA sob a tutela de Myers, representou o único treinamento acadêmico que teve em sua carreira. Carvalho colaborou extensivamente também com Joseph Bailey um especialista em serpentes da Duke University na Carolina do Norte (1940-1954). Após 1957, ocupou vários cargos administrativos, tais como chefe de Departamento de Zoologia, posteriormente chefe do recém criado Departamento de Vertebrados e finalmente Vice-Diretor do Museu Nacional. Entre 1975-1979, juntamente com Eugenio Izecksohn, colaborou com o curso de pós-graduação do Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, se aposentando em 1979 e vindo a falecer no Rio de Janeiro em 1985 [modificado de Adler, 2007].